22 de mar. de 2016

“Meu filho foi morto pela ignorância científica”



Reaberto o caso de um jovem que morreu após abandonar a quimioterapia. Pai do falecido culpa de um curandeiro pela decisão

 Por Javier Salas
Reprodução do El País

“Papai, me enganei.” Essa frase tão simples se torna perturbadora quando quem a pronuncia é Julián Rodríguez. Repete o que lhe disse seu filho Mario, de 21 anos, pouco antes de morrer. Seu erro: abandonar o tratamento médico da sua leucemia para abraçar uma pseudoterapia recomendada por um curandeiro que afirma ser capaz de curar o câncer com vitaminas. O calvário de Mario durou seis terríveis meses, até sua morte, em julho de 2014. Seu pai aperta os dentes com raivar ao repetir: “Papai, me enganei”.

“Ou você se joga pela janela ou parte para a briga”, diz ele. O que Julián sofreu é tão duro que o motivou a lutar para que ninguém mais passe por isso. Duas semanas depois de Mario morrer, ele declarou guerra contra os curandeiros que se aproveitam das tragédias de pessoas comuns e da sua falta de conhecimentos médicos: “É doloroso demais saber que ele teve uma oportunidade tão clara de se salvar… O meu filho foi morto pela ignorância científica.”

Sua primeira batalha é denunciar o curandeiro que afastou Mario do tratamento que poderia curá-lo. A Audiência Provincial de Valência, instância máxima do Judiciário nessa esfera, acaba de acatar sua queixa, obrigando o juiz de instância inferior — que inicialmente arquivou o caso — a reabrir o processo contra o falso médico, “no mínimo pelo crime de exercício ilegal da profissão”. As juízas consideraram que o pseudoterapeuta, que se apresenta como especialista em “medicina natural e ortomolecular”, deve responder por fingir que é capaz de curar o câncer com suas recomendações.

Segundo o médico — o de verdade — que tratava Mario, esse falso profissional não só o convenceu a recusar um transplante e a quimioterapia como também lhe prescreveu um tratamento que interferia na sua recuperação com elementos contraproducentes, como fungos e álcool. Em seu martírio, Mario ainda precisou passar por uma cirurgia no intestino devido a uma infecção.

Mas Julián ainda tem muitas mais batalhas pela frente: ele quer ajudar as pessoas leigas a evitar o erro do seu filho. “Não podemos saber tudo. É necessário oferecer informação para rebater as mensagens desses estelionatários”, diz. Para canalizar esse trabalho, ele criou a Associação para Proteger o Doente de Terapias Pseudocientíficas (APETP), a partir da qual luta, com a ajuda de divulgadores, ativistas e especialistas, contra a difusão de mensagens contrárias à ciência médica — o que, como já se viu, pode custar a saúde e até a vida. Seus primeiros objetivos: evitar que os charlatães vendam seus serviços em espaços públicos ou com o aval de instituições acadêmicas e oferecer informação comprovada sobre a verdade das pseudoterapias.

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