O estupro é um dos crimes violentos que mais cresce em incidência. Apenas aproximadamente 50% dos estupros são notificados, pois a maioria das mulheres se sente envergonhadas em ir a uma delegacia fazer corpo de delito.
O estupro é um ataque agressivo, com expressão sexual. Desencadeia reações emocionais complexas por parte da vítima, frequentemente mais significativas do que o dano físico.
Durante a última década, as perspectivas sociais e psicológicas do estupro evoluíram significativamente. O estupro passou a ser encarado como crime de violência que pode ou não incluir excitação sexual por parte do agressor. Na maioria dos casos a motivação do estuprador parece ser a degradação e a dominação da vítima, em vez da obtenção de relações sexuais não acessíveis de outra forma.
Esses achados ajudam a explicar os sentimentos da vítima e as sequelas psicológicas que podem ocorrer. A maioria das vítimas de estupro sofre de uma série de sintomas.
Existem efeitos psicológicos e físicos decorrentes de um estupro ou de uma agressão sexual. Durante o período posterior à agressão, as pacientes podem relatar diversos sintomas, como fadiga e cefaleias, pode haver também dor devida a traumatismo físico durante a agressão.
Distúrbios do sono são comuns, incluindo acordar no horário que o estupro ocorreu, auto-acusações, medo de ser assassinada, sentimentos de degradação e perda da auto-estima, sentimentos de despersonalização ou desrealização, culpa, ansiedade, depressão, temor de andar ou ficar só, medo das pessoas atrás delas e de multidões, medo de ficar dentro de casa ou fora dela (dependendo de onde ocorreu o estupro), temores sexuais, pesadelos repetidos recapitulando o estupro, síndrome do pânico, tendências suicidas, problemas com relacionamentos íntimos.
Muita das vezes a vítima se torna estigmatizada, ela se considera “impura” ou “indigna” por pensar que de algum jeito ela colaborou com o ocorrido. A mulher tende a imaginar que ninguém vai aceitar o que aconteceu e que o parceiro pode rejeitá-la por ter sido estuprada. O apoio e compreensão dos familiares ou pessoas próximas são bastante importantes, e para que isso ocorra de maneira adequada, faz-se necessária à avaliação e orientação psicológica destes.
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma diferente, de acordo com a experiência de vida, valores e crenças. O primeiro passo do tratamento terapêutico é conscientizar o paciente de que ele não tem culpa do ocorrido, utilizando técnicas para aumentar a sua auto-estima. Em alguns casos, dependendo da gravidade do trauma, é preciso que um médico receite medicamentos que variam de pessoa para pessoa.
Existem três momentos em que são diretrizes das principais demandas no atendimento do psicólogo com a vítima do estupro:
Primeiro Momento
· Avaliação dos sentimentos predominantes (medo, revolta, raiva, culpa, ansiedade, angústia, calma).
· Avaliação do grau de desorganização da vida pessoal.
· Avaliação da organização psíquica e mecanismos.
· Reações psicossomáticas.
· Reações do grupo social em que está inserida (acolhimento e apoio, críticas, discriminação, revolta, expulsão).
· Aconselhamento sobre DST/HIV/AIDS.
· Importância de a paciente respeitar o estado emocional em que se encontra e suas limitações.
· Apoio emocional.
Entrevista psicológica com acompanhante ou familiar.
Segundo Momento
· Reorganização da vida após a violência sofrida (retorno ao trabalho, à escola, as atividades desenvolvidas).
· Prevenção de futuras conseqüências na vida pessoal (estado depressivo, escolhas de relacionamentos, perpetuação da violência).
· Recuperação da auto-estima.
· Encaminhamento para avaliação psiquiátrica, caso seja necessário.
· Repercussões no sentimento frente à figura masculina.
· Apoio emocional.
· Sentimentos persecutórios provenientes da violência sofrida.
Terceiro Momento
Casos em que ocorre gravidez:
· Sentimentos relacionados à constatação da gravidez fruto da violência sexual (ambivalência, culpa, rejeição, aprovação).
· Levantamento dos princípios morais e religiosos que podem interferir na decisão ou não pelo abortamento legal.
· Fantasias relacionadas à gravidez e ao abortamento.
· Acompanhamento psicológico no decorrer da internação para interrupção legal da gestação, havendo a possibilidade de dar continuidade a este no ambulatório.
· Apoio psicológico frente às opções outras que não o abortamento legal.
É fundamental que a mulher que vivencia esta situação possa se sentir livre, sem preconceitos e julgamentos para fazer sua opção e sinta-se acolhida dentro do seu convívio familiar e da sociedade, qualquer que seja a sua escolha.
Cabe ressaltar a importância do atendimento multidisciplinar a mulheres vítimas de violência sexual e a necessidade de que um número maior de instituições se estruture para facilitar o atendimento a esta população, que poderá ser poupada de um desgaste e exposição maior, caso receba o atendimento adequado próximo a sua moradia ou local em que foi violentada.
(Autora: Eliana Mesquita – Psicóloga)
(Fonte: oolharpsi.blogspot.com.br )
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